Com parques nacionais cada vez mais preparados para receber visitantes em busca das estrelas, o Brasil se destaca no cenário internacional do astroturismo. Iniciativas em locais como os Lençóis Maranhenses e Foz do Iguaçu revelam um turismo aliado à ciência e à contemplação.
É cada vez mais comum que roteiros turísticos no Brasil incluam programas de observação do céu noturno. Esse segmento, conhecido como astroturismo, vem crescendo entre viajantes que buscam experiências em meio à natureza e longe da poluição luminosa. A prática, antes restrita a aficionados, virou tendência no pós-pandemia.
Um estudo recente analisou o potencial astroturístico de 75 parques nacionais brasileiros, classificando 8 deles como “excelentes” e outros 25 como “ótimos” para a prática. A análise levou em conta o índice Iastro, que considera a qualidade do céu à noite, a chance de céu aberto e a infraestrutura turística.
Entre os destaques está o Parque Estadual do Desengano (RJ), que em 2023 se tornou o primeiro “parque de céu escuro” da América Latina, reconhecido por sua baixa poluição luminosa. Outro exemplo é o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, onde é possível observar a Via Láctea, chuvas de meteoros e constelações a olho nu, sem qualquer instrumento.
Ali, o passeio noturno guiado parte do vilarejo de Atins e custa R$ 800 por casal. O trajeto inclui observação do plâncton bioluminescente na foz do rio Preguiças. Na parte rasa do rio, a água é agitada para revelar o fenômeno luminoso causado por uma reação química natural.
Na sequência, o grupo sobe uma duna para observar as estrelas, com ajuda de aplicativos de celular e com direito a vinho e queijo. Apesar do calor, o vento noturno pede um agasalho leve. O silêncio do parque é cortado apenas por raros veículos ou algum bovino perdido.
No sul do país, o Parque Nacional do Iguaçu (PR) também aposta no astroturismo com o projeto “Céu das Cataratas”. A experiência acontece aos sábados, às 19h, com ingressos a R$ 550. Visitantes são levados a um mirante após uma pequena trilha, onde cadeiras com travesseiros e mantas aguardam para uma noite de contemplação.
A atividade é conduzida pelo astrônomo Janer Vilaça, que alterna explicações científicas e culturais. Ele destaca a cosmovisão dos indígenas guarani, que interpretam uma constelação como uma ema devorando o céu do inverno — um prenúncio de seca. Curiosamente, culturas polinésias veem a mesma constelação como um anzol, sinal de época de pesca.
As aulas ao ar livre duram cerca de uma hora e conectam ciência, história e mitologia. Ao final, um telescópio permite observar a lua em detalhes — relevos, crateras e sombras que surpreendem até os mais céticos.
“O céu brasileiro é um dos menos afetados pela poluição luminosa entre os países do G20”, afirma o estudo. O Brasil vem reconectando os visitantes ao cosmos, à natureza e às suas próprias histórias.